Dra. Helena Neves

Licenciada no Brasil e em Portugal, onde resido há 6 anos, sou apaixonada por minha vocação. Minha carreira de 23 anos não se limitou, nem se limita, à legalização da vida de imigrantes em Portugal. Contudo, é fato que o meu desejo de me tornar cidadã do mundo fez com que eu entrasse no avião com meu marido e minhas duas filhas com passagem apenas de ida para Portugal.

No Brasil, também me dediquei à Docência do Ensino Superior. Sendo Pós-Graduada em Direito Civil e em Processo Civil desde 2002, iniciei minha carreira de formadora de novos advogados. Como docente, fui Professora da Universidade Estácio de Sá, em vários municípios do estado do Rio de Janeiro. Lecionei Introdução ao Estudo do Direito, Direito Civil e Prática Jurídica. Na mesma Universidade, coordenei o Curso de Direito, de 2010 a 2017. Foi nesse ínterim que defendi minha dissertação, obtendo o título de Mestre em Direito Público e Evolução Social.

Em minha carreira profissional, não faltou tempo para o voluntariado. Minha atuação como voluntária evidencia meu compromisso com a dignidade do ser humano. Visando ao aperfeiçoamento de minha abordagem em situações muito complexas, busquei formação específica em Mediação de Conflitos e, em 2004, recebi meu certificado. Minha sensibilidade feminina e minha própria luta por conquistar autoridade e reconhecimento profissional aproximaram-me mais das lutas das mulheres; por isso tenho sido incansável na tentativa de aprofundar o trabalho acerca da violência contra a mulher em Portugal, buscando reunir forças ao que já existe por aqui. Visando a esse aprimoramento, cursei Pós-Graduação em Violência Doméstica na Universidade de Coimbra, em 2017.

Nessa altura, você deve estar se perguntando: Por que você migrou para Portugal, Helena?

Tomei a decisão de migrar quando, em 2014, perdi minha mãe. Foi um processo longo de muita dor e sofrimento e, em 2016, sem que houvesse me recuperado do primeiro luto, minha avozinha nos deixou também. Paralelamente, a violência explodia no Rio de Janeiro, minha cidade natal, e a vida parecia insustentável. Eu me sentia mergulhada na tristeza e no medo.

Foi quando, juntos, eu e minha família posicionamo-nos abertos a uma mudança radical. Portugal seria o nosso destino. Decidir sair do ciclo da dor, que muitas vezes nos leva à depressão, é algo que não se consegue sozinho. Nesse sentido, o amor do meu marido, das minhas filhas e de pessoas mais próximas, tendo por base a fé, proporcionaram a transformação que foi se operando em nossas vidas.

Mergulhei nos estudos e fui aprovada para o Doutoramento na UMinho. Todavia, a chegada aqui exigiu muito esforço e resiliência.

Mesmo com a carteira da OA (Ordem dos Advogados de Portugal), ter clientes não foi automático. Eu e meu marido precisamos trabalhar fora de nossa área, aproveitando cada oportunidade que aparecia. No entanto, as dificuldades enfrentadas não nos desanimou. Ao contrário, fortaleceu nossa união, fortaleceu a nossa família e nos ajudou a nos estabelecermos aqui. Nesse ínterim, minha sensibilidade e meu compromisso com a dignidade do ser humano fizeram-me enveredar pela seara do ordenamento jurídico português a fim de tirar pessoas, com direito à dupla cidadania, da esfera da clandestinidade. Especializei-me nos mais diferentes tipos de visto e, também para aqueles que estavam em outros lugares do mundo, não apenas no Brasil, mas que tinham ascendência portuguesa, ofereci meus serviços a fim de pudesse ajudar meus clientes a alcançarem o status de luso-brasileiros. Assim, mais de mil pessoas foram auxiliadas na obtenção da nacionalidade portuguesa.

Meu desejo de viver verdadeiramente o sentido da máxima “amai ao próximo como a si mesmo” levam-me à busca constante por exercitar meus conhecimentos e meus dons. Portanto, tornar-me Investigadora Colaboradora, integrante do Centro de Investigação Interdisciplinar de Direitos Humanos e do Centro de Estudos em Direito da União Europeia, na Universidade do Minho, desde 2018, foi um processo natural.

Por outro lado, reunir todos esses propósitos acabam por roubar-me um tempo precioso de dedicação à família. Por isso, a ampliação do escritório fez parte do repensar, reorganizar, distribuir melhor o meu tempo para que, em todas as áreas de minha vida, eu possa me sentir genuinamente realizada. Sendo assim, a constituição de novas parcerias e a participação de outros advogados em nossa empresa fazem parte do nosso plano estratégico, a fim de alcançarmos o atendimento adequado não apenas às necessidades daqueles que nos procuram, mas também às necessidades de minha família.

Sendo assim, prossigo em meu doutoramento e desejo que o prêmio Melhor advogada brasileira do Brasil no mundo, recebido em outubro de 2021 da Revista Inglesa High Profile, fortaleça ainda mais meu desejo de servir aos meus clientes, buscando excelência em nossas abordagens processuais. Qualificar-me cada vez mais, porém, exige um equilíbrio entre vida profissional e vida familiar bastante difícil. Mesmo assim, esforço-me por alcançá-lo, pois uma pessoa é tanto mais feliz, quanto mais consegue estar inteira em tudo o que faz. É isso o que desejo para mim, para os meus colaboradores e parceiros e, certamente, para todos os nossos clientes.